III
Antes de
tirar o terno, revolvi ir até um dos estacionamentos dos bilhetes
que encontrei no cofre. Um deles fica num prédio próximo ao do
escritório. Entro normalmente. Tem tanta gente grã-fina entrando
e saindo que o máximo que alguém pode reparar é na qualidade (ou
falta desta) do meu terno.
Encontro
a vaga descrita no bilhete. E o Corola está ali, intacto. Susan
nem sequer pensou em levá-lo para casa. Disse que poderia ser útil
à polícia. Mesmo assim me deu as chaves.
Procuro sinais de violência na lataria. Nada. Nem arranhão de
garagem.
Abro e sento no banco do mo...
Nossa! Que que é isso?! Vou jogar meu quiném fora. Eu, aqui,
achando que tenho carro...
Bancos de couro, dvd-player, GPS...
Não resisto e ligo o carrão.
Isso! Ainda vou ter uma carrão desses. Deixa só eu comprar
primeiro as alianças. E financiar a casa... os móveis... Ai!!
Bateu uma “deprê”.
Desligo a ilusão. Caio na real. Vamos ao trabalho.
Reviro tudo com muito cuidado. Nada. Nadinha, mesmo. Nem ao menos
um batom perdido de Susan.
Sim, eu sei. Não estou usando o pronome de tratamento com ela, né?
Preocupante...
Saio do carro. Fecho ele. E, enquanto caminho para a saída,
reviro meu bolso.
O outro estacionamento fica mais perto do movimentado centro da
cidade. Não é muito distante. Mas já é quase a hora do rush.
Vou levar mais de meia-hora
para chegar... Hum...
Torço o meu pescoço para trás que nem uma coruja e encaro
novamente o carrão.
Um minuto e meio depois estou saindo com ele da garagem.
Ligo o ar-condicionado a toda. Paro no engarrafamento. Enquanto
meia dúzia de motoristas de camisas suadas esticam o pescoço para
fora dos veículos e dão novas profissões às mães de outros, eu
ligo o DVD. Mas tento ficar ligado que não tenho pedal de
embreagem.
Terno, gravata e carrão. Se os pais de Elena me vissem agora...
Mandariam me prender!
Isso. Finalmente. Depois dos quarenta minutos mais confortáveis
de trânsito que já tive chego ao meu destino. Procuro uma vaga que
se posa chamar de segura e levo mais uns cinco minutos para descer do
carro.
Vejamos. Tenho a chave do Volkswagen, mas não a placa. E as vagas
não são numeradas. E agora? Como saber qual é? O jeito é
testar a chave em cada um. Mas espera aí, seu José! Digo, Victor.
Vamos pensar um pouco. A chave é simples e surrada. Conheço o
tipo. Tenho uma igual. Nada de alarme. Sorte a minha. Quase todos
aqui tem uma luzinha piscando no para-brisas. Só um fusca e dois
gols é que não. A chave não serve em nenhum.
Bem, havia mais um estacionamento. O jeito era sofrer mais
cinquenta minutos de ar-condicionado até lá.
Finalmente o último estacionamento. Desta vez rotativo e sem
numeração de vagas. Local simples, embora não tão barato.
Motivo: falta de vaga na redondeza.
Infelizmente, desta vez, o padrão é carro popular sem alarme. Tem
um bocado de golzinho para testar a chave. Tento um por um até que,
finalmente, uma porta se abre.
Puxa, que cheiro! Um cheiro de roupa suja há muito tempo. Reviro
o interior. Nada de roupa. Encontro umas moedas, umas cédulas
velhas e rasgadas de baixo valor e mais nada.
Desço, abro o porta-malas. Um cheiro ruim mais forte ainda.
– Alto! Polícia! Ponha as mãos na cabeça!
Merda...
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